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George Orwell - A quinta dos animais
Minha vista está falhando - disse ela finalmente. Mesmo quando eu era moça não conseguia ler o que estava escrito aí. Mas parece-me agora que a parede está meio diferente. Os Sete Mandamentos são os mesmos de sempre, Benjamim? Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar sua norma, e leu para ela o que estava escrito na parede. Nada havia, agora, senão um único Mandamento dizendo: Todos os animais são iguais mas alguns animais são mais iguais do que os outros.

George Orwell - A quinta dos animais
Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.

George Orwell - A quinta dos animais
A vida ia dura. O inverno foi tão frio quanto o anterior, e a quantidade de alimento ainda menor. Novamente foram reduzidas todas as rações, exceto as dos porcos e dos cachorros. Uma igualdade por demais rígida em matéria de rações, explicou Garganta, seria contrária ao espírito do Animalismo.

George Orwell - A quinta dos animais
No outono, após um tremendo e exaustivo esforço, pois a colheita se fizera ao mesmo tempo, o moinho de vento estava concluído. Restava ainda instalar a maquinaria e Whymper andava tratando das compras, mas a estrutura já estava pronta. Contra todas as dificuldades, a despeito da inexperiência, dos implementos primitivos, da falta de sorte e da perfídia de Bola-de-Neve, a obra estava concluída no exato dia marcado!

George Orwell - A quinta dos animais
Não obstante, crescia o sentimento de ódio com relação a Frederick. Certo domingo de manhã, Napoleão apareceu no celeiro e declarou que jamais, em tempo algum, admitiria vender as pilhas de madeira a Frederick; considerava abaixo de sua dignidade, disse, fazer negócios com patifes daquela espécie.

George Orwell - A quinta dos animais
Agora já não mencionavam Napoleão como "Napoleão" simplesmente. Referiam-se a ele de maneira formal, como "nosso Líder, o Camarada Napoleão," e os porcos gostavam de inventar para ele títulos tais como Pai de Todos os Bichos, Terror da Humanidade, Protetor dos Apriscos, Amigo dos Pintainhos e assim por diante.

George Orwell - A quinta dos animais
Durante aquele ano, os bichos trabalharam ainda mais que no ano anterior. A reconstrução do moinho de vento, as paredes com o dobro de espessura, sua conclusão no prazo marcado, juntamente com o trabalho normal da granja, era tudo tremendamente laborioso. Momentos houve em que lhes pareceu que estavam trabalhando mais do que no tempo de Jones, sem se alimentarem melhor.

George Orwell - A quinta dos animais
Em janeiro, a comida diminuiu. A ração de milho foi drasticamente reduzida e anunciou-se que uma ração extra de batata seria entregue em seu lugar. Descobriu-se então que a maior parte da colheita de batatas estava congelada nas pilhas, não suficientemente protegidas. Moles e descoradas, poucas continuavam comíveis. Durante dias seguidos, os bichos não tiveram senão palha e beterraba para comer. O espectro da fome surgia à sua frente.

George Orwell - A quinta dos animais
Durante todo aquele verão o trabalho da granja andou como um relógio. Os bichos, felizes como nunca. Cada bocado de comida constituía um extremo prazer, agora que a comida era realmente deles, produzida por eles e para eles, em vez de distribuída em pequenas quantidades por um dono cheio de má vontade.

George Orwell - A quinta dos animais
O Sr. Jones, proprietário da Granja do Solar, fechou o galinheiro à noite, mas estava bêbado demais para se lembrar de fechar também as vigias. Com o facho de luz da sua lanterna balançando de um lado para o outro, atravessou cambaleante o pátio, tirou as botas na porta dos fundos, tomou um último copo de cerveja do barril que havia na copa, e foi para a cama, onde sua mulher já ressonava.

Eça de Queirós - OS Maias
Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem linhas colaterais, sem parentelas - e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quase um antepassado, mais idoso que o século, e seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra.